quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Eu sou bela?

A mulher grita. Estará louca? Talvez seja apenas vaidade. Egoísmo e vaidade. Para mim ela é apenas uma pobre louca encantada com seu espelho. Mas às vezes surgem rachaduras em seu reflexo, manchas pretas, brancas, vermelhas, pontos de escuridão que refletem o que ela não deseja ver. O espelho fica embaçado. E ela arruína. Pobre necessitada, encantada com a fraude de sua beleza. Parece viver em uma caverna, de costas para a saída. Será que teme a luz?
Todos dizem como a deve ser. Ela quer ser bela, simpática, boa, sensível, elegante. Ela põe os talheres da forma tal como a mandam. Ela veste-se como a querem ver. Cheira da forma apropriada. Mas às vezes algo falha. Ai, ela grita! Bate em todos os móveis (que claro, são adequados como a fizeram comprar), grita seu poder, esbraveja, vira bicho. Ela se mostra como é, e desgostosa ela gosta de ser o que aspira.
Diante dos olhares, ela recua atrás de suas máscaras costuradas no seu corpo, no seu ser. Quando em vez, ela sofre martírios por não poder aparecer verdadeira. E quando a dor é demasiada o seu eu-bicho, amarrado, amordaçado, morfinado lá no fundo, consumindo as vísceras, rasgando os peritônios, extravasa por todos os poros, derramando-se sobre sua pele falsa, camuflada. Ela vira ela. Sua mente se embriaga de si própria, e se consome no prazer de ser quem é.
Passado o espetáculo, o gozo, ela murcha, recolhendo seu eu para o casulo. Busca desculpas, razões, justificativas para seu “descontrole”. E como se espera ela os encontra. Satisfeita, retorna a seu mundo em busca da felicidade, e assim fica (brevemente) até a nova aparição.