Agora mesmo queria engastar-me na fé. Para não ter que pensar? Para não ter que ficar sem uma verdade. É isso. É isso que nos encaminham a falsos corredores. Corredores imensos de paredes brancas que nossos olhos insistem em ver pintadas, cheia de adornos. Agora mesmo queria me engastar nessas pinturas, porém elas não existem. São os olhos. Eles vêem, mas são sujeiras. No dia em que os limpei, por um átimo senti-me louco, por estar vendo sem travas as trevas nua. Os olhos são lentes, temos que limpá-la, desempestear-las da sujeira que nos jogam na cara. Ela nos espolia de ver... de ver o nada. De ver que a salvação tá no nada. E é ele, o nada todo imenso reverberando uma luz sem cor que faz sentido. Por que é isso que existe: o nada ilimitado, infinito, diante das nossas lentes. No dia em que as limpei sentir-me coagido, coagido pela luz que entrava toda inteira dentro de mim. Iluminava o meu vivo, atravessava peritônio e vísceras. Chegava ao meu eu tão dentro de mim, que eu próprio não sabia onde o encontrar. Ela me livrara da sujidade, do indecoroso, do sórdido. Me libertara do envóculo que impedia minha lente de gozar da luz plena.
Então eu via a verdade? Seria a verdade aquilo tudo, o nada? Estava o genuíno diante de mim? Mas o que fazer com ele? Chorei arduamente por me perguntar. Como é doloroso ter o nada nas mãos e não ter o que fazer com ele. Que fazer com uma nada tão grande? A menos que me tornes tão grande como ele. Novamente recorrerei as travas, novamente aceitarei a sujeira que me atiram aos olhos, ou eu mesmo os sujarei? Oh infâmia! Perdido estou! Perdido num nada grande, num nada autêntico, seduzido em pintá-lo todo, em completá-lo, em pendurar em suas paredes de nada verdades minhas, em enchê-lo de lixo novamente. A menos que consiga mantê-lo assim: vazio. Resistirei?