quarta-feira, 21 de julho de 2010

A tarde azul, o guarda roupa e a geladeira



Na tarde não havia romantismo. O céu estava azul-escuro-firme, quase negro, sem máculas como uma tela virgem, lisa, interrompido apenas pelos horizontes que se penduravam de seus bordos. No meio um astro brilhante, arredondado, e se se olhasse bem fazia aparecer pontos menores, solitários, perdido no azul negro. Era incontestavelmente uma tarde azul. Em casa espiei pelo buraco na porta do guarda roupa, ele bocejou um bafo escuro na minha cara. Diante da indelicadeza acendi uma vela e alumiei suas entranhas que surpreendentemente nada tinha a me dizer. E alumiei com vela por respeito a sua velhice, evitando contato com essas luzes modernas, tão superficiais e inconstantes. Estéreis, diria ele. Antes dos devaneios me expulsou aos espirros, retribuindo a incivilidade. Preferi não corresponder à grosseria e fui me deitar, de costas pra ele. À minha frente ficava a geladeira, fria...

2 comentários:

Marília Marques disse...

Gosto tanto dos textos que leio aqui.
Tanto...

Uma dúvida: Sr e Srª Poulain??
Dois escrevem aqui ou apenas um?

Anônimo disse...

Dois